Sesab confirma 47 mortes por dengue em 2024 na Bahia

QUAL A RELAÇÃO DO SER HUMANO PARA COM O OUTREM? POR QUE NOS IRRITAMOS FACILMENTE...

Colunista Ademílson Almeida - O Poeta


Minha reflexão perpassa pelo viés das contradições que emana o ser humano, pois somos sabedor que a subjetividade humana é inerente a sua dinâmica sociocultural. 

Haja vista, que ao se pensar nestas questões que o poema abaixo destaca juntamente com o pensamento de Bauman, percebemos que as inquietações diz respeito o incontentamento que temos durante nosso processo vital de relacionamento e inter-relacionamento durante a construção de nossa “identidade psicológica”, diante disso o que percebemos é a liquidez nos relacionamento. BAUMAN assevera que: “Nem no amor nem na morte pode-se penetrar duas vezes - menos ainda que no rio de Heráclito. Eles são, na verdade, suas próprias cabeças e seus próprios rabos, dispensando e descartando todos os outros”. (BAUMAN, 2004, p.09) 
Visualizando a sociedade atual percebemos que os valores morais não estão sendo respeitado, pois o ser humano é o único que interferem nessas relações sociais, onde o dinheiro tem sido o carro forte de manipulação das massas. O mesmo coloca o homem como um objeto á venda, sem valor algum. E com isso as rupturas sociais estão cada vez mais se desintegrando, porém, todo esse contexto diz respeito a um problema que é muito antigo, ainda nos tempos dos primórdios o homem por questões naturais demarcava um limite em relação ao outro e principalmente ao sexo oposto. 

Com a problemática que cerca o campo do convívio social é notável perceber o conflito que gera em torno de outros povos, fazendo com que as veiculações harmônicas entre povos e línguas diferentes sejam algo que norteia o domínio das massas menos favorecidas, em prol de sua própria escravidão social. O que fica evidente é que nos irritamos com tudo e nada ao mesmo tempo, a irritação às vezes se torna líquida, justamente por não demostrar reciprocidade diante das controversas sociais. E o poema abaixo vai se tratar especificamente da não aceitação dos problemas que ocorre no nosso dia a dia e mostra o quanto somos subjetivos e incapazes de aceitar o outro com suas diferenças e, como Bauman diz não conseguimos amar, mas liquidificar esse amor que ele chama de amor líquido. 


 IRRITAÇÃO

 Irrito-me com a falta de democracia 

 Irrito-me com a democracia em falta
 Irrito-me com o sistema prometeico dos políticos
 Irrito-me com a plutocracia dos políticos
 Irrito-me, me irrito! 

 Irrito-me com a falta de alimento na mesa dos pobres 

 Irrito-me com a mesa cheia de pobres famintos 
 Irrito-me, me irrito!

 Irrito-me, quando ela dorme e não mim da boa noite

 Irrito-me quando ele me diz bom dia e o dia não é bom 
 Irrito-me quando ela diz boa noite e não dorme.
 Irrito-me quando pegam na minha mão
 Irrito-me quando não pegam na minha mão
 Irrito-me quando não recebo o abraço dela
 Irrito-me, me irrito!

 Irrito-me quando sou excluído 

 Irrito-me mesmo sendo excluído eu incluo
 Irrito-me com gente pisando em gente 
 Irrito-me com as massas sendo amassadas
 Irrito-me com os corruptos usando ternos 
 Irrito-me com os ternos nas mãos dos corruptos 
 Irrito-me vendo um inocente usando jaula 
 Irrito-me com adolescentes descendo até o chão 
 Irrito-me, me irrito!

 Irrito-me vendo os educadores não educando 

 Irrito-me ao olhar a escola como um presídio 
 Irrito-me com o frio em dia quente
 Irrito-me com o calor em noite fria
 Irrito-me quando vejo pessoas passando fome 
 Irrito-me quando vejo a fome matando gente
 Irrito-me quando alguém é injustiçado
 Irrito-me, me irrito!

 Irrito-me quando falo de Amor e não amo
 Irrito-me com a falsidade das pessoas
 Irrito-me quando sou falso
 Irrito-me quando vejo o pobre gritando em meio a uma  multidão 
 Irrito-me quando vejo a multidão gritando um pobre 
 Irrito-me, Me irrito. 


CARVALHO, Ademilson Almeida de. Dos rabiscos à poesia; ilustração Geane dos Santos. Araci-Ba, J&J arte gráfica, 2014. BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

Comentários