#GenteBoa: Milton do suco de limão com coco
Espírito empreendedor e altamente
criativo, o comerciante já patenteou a receita que faz sucesso no Pelourinho e
encanta baianos e turistas
Embora pernambucano, Milton Cavalcante, 50, já é
um patrimônio do Pelourinho. Inventor do famoso “suco de limão com coco”, o
comerciante é exemplo de empreendedorismo, criatividade e persistência. Ele,
que trabalha nas ruas de Salvador há mais de 30 anos, já vendeu diversos
produtos até ser tocado pelo gênio da invenção, cerca de 15 anos atrás: começou
com saquinho de água na praia da Boa Viagem, vendeu também cafezinho na
Calçada, lanche com suco na Baixa dos Sapateiros e Pelourinho e então passou a
vender apenas os sucos, de lima e limão, ao notar que assim era mais lucrativo.
Nessa época ganhou a alcunha de “Suco de Lima”.
E aí, já comercializando exclusivamente no local
que agora é seu habitat, o Pelourinho, Milton viu um problema gástrico
tornar-se para ele, não uma rima, mas uma solução. “Eu tinha muita queimação no
estômago, sofria… quando tomava suco de limão então… por isso um dia me deu a
ideia de misturar água de coco ao suco e o alívio foi imediato”, conta. Com
faro comercial, decidiu levar a inovação para as ruas – e a clientela aprovou.
Mas ainda não era o pulo do gato. O bicho pegou mesmo foi quando, no lugar da
água, o inventor bateu coco seco, em pessoa, junto com o suco de limão: “Aí o
povo disse: É esse!”, comemora. O sucesso é tanto que já vem sendo copiado em
algumas regiões da cidade e até mesmo fora de Salvador. E as duas garrafas
térmicas que ele carregava se transformaram em dois carrinhos (no verão ele
coloca uma filial, aos cuidados de vendedora contratada) com seis botijões
térmicos, de nove litros cada, que, diariamente, chegam cheios e saem vazios.
O cineasta americano Spike Lee é apenas um dos
famosos que já aprovaram o suco de limão com coco de Milton (vide foto). Aliás,
por falar em americano, idioma aqui não é problema. Embora seja tão monoglota
quanto Nelson Rodrigues, ele fez questão de estampar em seu carrinho a
expressão “suco de limão com coco” em sete idiomas: japonês, chinês, inglês,
francês, polonês, russo e alemão. E tome-lhe “citroensap met kokos” para
aliviar o calor: um copo de 200ml custa R$ 3; já o de 400ml: R$ 5. “Para provar
não paga”, enfatiza o comerciante, exibindo a bandeja que projetou
especialmente para este fim: com suportes para os copinhos. Sobre patentear a
fórmula infalível, em que “o coco retira o ácido do limão e o limão retira a
gordura do coco”, ele já está com o processo encaminhado, em terceira
instância. Agora é só questão de tempo.
O cineasta Spike Lee não resistiu à mistura
infalível de limão e coco. Foto: Reprodução do Facebook
Empreendedor nato: Engana-se, porém, quem atribui o sucesso do
vendedor apenas ao sabor inconfundível de seu produto. Milton faz questão de
manter todo o entorno à altura da qualidade de seu suco – do asseio ao modo de
tratar os fregueses. No largo do Pelourinho, onde fica, bem em frente à Casa de
Jorge Amado, o ambulante instala duas lixeiras próprias para garantir a
limpeza. E se algum descuidado atira o copo no chão, o vendedor não hesita em
apanhar. “Tudo tem que estar limpo. Se eu não cuidar do lugar onde eu mesmo
trabalho, quem vai cuidar?”, reflete. Além disso, faz questão de se manter
atualizado e legal. É “vendedor cadastrado”, conforme se lê no uniforme que
usa, e já fez cursos de especialização no Senac e na Universidade Federal da
Bahia (Ufba). Outro ingrediente de seu sucesso é a boa relação que mantém com
os guias e demais ambulantes do Centro Histórico, que fazem de seu carrinho
parada obrigatória dos clientes.

Milton Cavalcante faz questão de zelar pelo local
onde trabalha. Foto: Alessandra Benini / Bahia.ba
“O suco dele é uma delícia, uma verdadeira
pérola da gastronomia baiana”, diz Juliana Kudo, de Jales, interior de São
Paulo. E completa: “A gente vem a Salvador para comer acarajé, caruru, moqueca…
essas coisas manjadas, não é? Mas é uma excelente surpresa descobrir que a
culinária daqui vai além”. Evangélico, Milton revela ainda que a experiência o
fez evoluir nos negócios, bem como no convívio pessoal. “Eu botava som alto no
carrinho, com louvores, mas senti que incomodava alguns clientes. Então achei
melhor não colocar mais. Com o tempo entendi que não é bom misturar as coisas”,
diz. Sempre com um sorriso no rosto e disposto a conversar, Milton Suco de
Limão, seu nome no perfil do Facebook, vale repetir: já é um patrimônio do
Pelourinho. #GenteBoa