- Gerar link
- Outros aplicativos
- Gerar link
- Outros aplicativos
No dia 11 de Novembro
de cada ano, os Kiriris comemoram a reconquista do território de
Mirandela, uma festa que já é tradição em toda região da Bahia, nesse dia a
comunidade recebe a visita de vários turistas, representantes do poder público
e de muitos parentes indígenas de várias aldeias do Brasil.O
padroeiro da comunidade indígena Kiriri é Nosso Senhor da Ascenção, os Kiriri
tem como um dos seus maiores feitos históricos a participação na Guerra de
Canudos, e devido a sua obediência e amor aos costumes os Kiriri conquistaram o
respeito e a confiança do povo brasileiro, a demarcação e homologação de suas
terras, o direito a uma educação diferenciada dentre outras.
veja o video...
Hoje,
a pesar de estarem sempre enfrentando desafios, os Kiriri estão buscando se
organizar mais, para que possam assegurar seus direitos enquanto índios e
cidadãos brasileiros que cumprem com seus deveres.Saõ muitos desafios, mas o
que chama mais atenção nesse povo é a vontade de estar nos espaços onde as
políticas voltadas para os povos indígenas estão sendo debatidas, ou seja, são
quietos mas nunca alienados, são indígenas que estão sempre em busca do
conhecimento. (INDIOS ONLINE)
Kiriri
é um vocábulo tupi que significa povo "calado",
"taciturno". Essa designação teria sido atribuída pelos Tupi da costa
aos índios habitantes do sertão. O povo kiriri constitui hoje um grande exemplo
de luta para outros povos indígenas localizados na região Nordeste do país. No
espaço de quinze anos, eles se estruturaram politicamente e promoveram, em fins
dos anos noventa do século passado, a extrusão de cerca de 1.200 não-índios
incidentes na Terra Indígena Kiriri, homologada desde 1990.
Historicamente, se
poderia datar uma primeira aproximação dos Kiriri a uma idéia de território -
assim como o conhecemos hoje, com seus limites bem definidos - no início do
século XVIII,
época da doação,
por parte do então rei
de Portugal, de
uma légua em quadra de terras a todas as aldeias do sertão com mais de cem
casais, fruto de solicitações constantes por parte dos jesuítas face
aos conflitos
decorrentes da expansão
da pecuária, em
especial com sesmeiros da região que interferiam com certa freqüência na
administração dos párocos das aldeias ali
constituídas
(Bandeira 1972).
Assim, Saco dos
Morcegos, uma das quatro aldeias kipeá-kiriri fundadas pelos jesuítas, com uma
população então estimada em 700 casais, foi delimitada como havia sido
determinado, ou seja, a medida de uma
légua de sesmaria
(6.600 m), do centro a todas as partes, isto é, conforme
o costume à
época, da igreja missionária aos oito pontos cardeais e colaterais, formando um
octógono regular de 12.320 ha (Bandeira, 1972).
O Alvará régio que
regulamentou o processo de doação não se
constituiria
contudo, por si só, durante muito tempo, em um instrumento eficaz de garantia
dos índios à posse dessas terras, pois, após a expulsão dos jesuítas, em 1756,
Saco dos Morcegos seria elevada a vila (em 1760), adotando a denominação atual
de Mirandela (Bandeira, 1972).
A implantação de
uma administração civil nas aldeias do sertão ensejou
um processo de
indiferenciação entre índios e colonos, implicando uma significativa abertura
para a invasão das terras indígenas e um forte processo de
"desindianização" ao qual não resistiriam as demais aldeias dos
Kipeá-Kiriri, depois de elevadas a vilas e submetidas à administração dos
"Diretores de Índios" ao longo do século XIX (Brasileiro &
Sampaio, s/d).
É muito provável
que, dada a sua proximidade e a identidade cultural dos índios ali residentes,
boa parte da população dessas vilas tenha se refugiado em Saco dos Morcegos,
cuja sobrevivência pode ser atribuída a uma localização mais afastada das rotas
da pecuária e a relativa inferioridade da fertilidade de suas terras,
comparativamente às das
demais aldeias.
Deste modo, Saco dos Morcegos seria progressivamente ocupada por diversos
outros segmentos camponeses não indígenas, repelidos justamente daquelas áreas
mais valorizadas do agreste. Sua presença não restringiu drasticamente o espaço
disponível para os Kiriri: uma pequena faixa íngreme de terras onde até há
pouco residiam, constituindo cinco núcleos marginalmente localizados, circundados
por pequenos povoados de regionais.
Reestruturação
sócio-política
O contexto marcado
por perseguições e desmandos administrativos que dominou o século XIX e
caracterizou a ação dos "Diretores de Índios", freqüentemente
contrários aos direitos e interesses indígenas, agravar-
se-ia, ainda mais
após a extinção dessa Diretoria, contribuindo para expor ainda mais
acentuadamente as terras ocupadas por índios à cobiça de posseiros e pequenos
fazendeiros.
Apenas em meados
do século XX as terras doadas pelo rei de Portugal seriam efetivamente
reclamadas pelos Kiriri, principalmente após a instalação, em Mirandela, em
1949, de um Posto Indígena do então
Serviço de
Proteção aos Índios.
Tal iniciativa,
fruto de incessantes gestões junto ao seu diretor, o Mal. Rondon, por parte do
pároco Renato Galvão, do município vizinho de Cícero Dantas, foi precedida pela
visita aos índios, em 1941, do
engenheiro
Luiz Adami, do Ministério da Agricultura e, em 1947, do sertanista Sílvio dos
Santos. Ambos os relatórios decorrentes deste primeiro contato mais oficial com
os Kiriri ressaltam a precisão com que esses índios referiam ao formato
octogonal do chapéu de sol que
constituía o
território reivindicado, e o desenhavam, identificando e localizando ainda os
oito marcos que o delimitavam, a despeito deles
terem sido
de há muito destruídos ou deslocados. Na sua falta, marcos naturais que, grosso
modo, mantinham a configuração original, foram apontados:
do cume do Pico, ao norte, à Pedra da Bica ou do Suspiro, a
noroeste; daí ao Pau-Ferro, na estrada para Salgado, a oeste, local do atual
povoado de mesmo nome; do Pau-Ferro à Pedra Escrevida, na Baixa do Juá, a
sudoeste; daí à Pedra do Batico, na Baixa da Catuaba, extremo-sul da área, na
estrada pra Pombal; do Batico à Casa Vermelha, na estrada para Curral Falso, a
sudeste; deste local à Pedra do Gentio, a leste; daí à Marcação, antiga fazenda
e atual povoado, na estrada para Banzaê, a nordeste, e daí finalmente ao ponto
de origem (Rosalba 1976).
A existência de um
Posto Indígena em Mirandela instaura um contexto interétnico mais bem definido,
legitimando formalmente a condição indígena dos Kiriri e instituindo um
anteparo legal entre esses e a sociedade nacional mais ampla. Nos 20 anos
subseqüentes à sua instalação, que coincidiram com uma fase de decadência geral
do SPI, a atuação dos encarregados do Posto notabilizar-se-ia, principalmente,
pela intermediação de conflitos isolados entre os índios e os não-índios
ocupantes de suas terras e pelo atendimento de algumas de suas pequenas
demandas, tais como construção de escolas, posto de saúde, doação de
ferramentas, remédios etc. A questão do território, móvel mais imediato dos
esforços que culminariam na presença do órgão, não seria, ainda durante esse
período, encaminhada.
Em fins da década
de 1960, a falência do órgão tutelar reflete-se em seu posto de Mirandela,
totalmente desaparelhado e, mais que isso, comprometido com as oligarquias
regionais. A situação kiriri à época era marcada pela existência de disputas
entre os núcleos indígenas, por altos índices de mortalidade e de alcoolismo e
por ataques perpetrados por não-índios.
Em 1972, face à
total inoperância do órgão tutelar -que então já era a Funai- e à necessidade
premente de constituir uma estrutura organizativa minimamente independente e
representativa que enfrentasse os regionais e efetivasse a luta coletiva pela
demarcação do território, os
Kiriri elegeram um
líder indígena para o cargo de "cacique", além de um conselho formado
por um representante em cada núcleo.
No contexto do
processo organizativo que se seguiu à eleição do cacique
e conselheiros, os
Kiriri empreenderam uma série de ações que inicialmente foram orientadas à
revitalização étnica do grupo, ao estreitamento de relações com outros povos
indígenas e, ainda, à familiarização com os meandros administrativos do Estado.
Em 1976, com a entrada em cena de um chefe de posto com razoável experiência de
trabalho indigenista, independência política e, principalmente, disposição para
respaldar os projetos coletivos dos Kiriri, tais ações ganham uma conotação
mais estritamente política, centrando-se na condução de um pleito pela
demarcação e extrusão (expulsão dos invasores) do território indígena, com base
no montante da área doada pelo Rei de Portugal, ou seja, os 12.320 hectares que
compreende a "légua em quadra" e, internamente, em apropriações
parciais simbólicas e efetivas desse território, aqui destacadas
esquematicamente:
1979
- Organização de uma roça comunitária na Baixa da Catuaba, situada ao
sul do Território indígena, na estrada que liga o povoado de Mirandela ao
município de Ribeira do Pombal, caracterizada por forte incidência de
ocupações de regionais.
|
1981
- Demarcação da Terra Indígena Kiriri, com 12.320 ha.
|
1982 -
Ocupação da Picos, localizada no núcleo Lagoa Grande, maior fazenda no
interior do território kiriri, tida por posseiros e fazendeiros como baluarte
na ocupação das terras indígenas. Seu pretenso proprietário, Artur Miranda,
era apoiado por políticos da região e considerado pelos índios como o seu
mais crucial inimigo.
|
1985 -
Ocupação de uma fazenda de 700 ha. no núcleo Baixa da Cangalha.
|
1986 - Os
Kiriri interditam importante estrada de acesso de Mirandela ao povoado de
Marcação, retirando todas as posses e roças de regionais ali localizadas.
|
1987 - A
FUNAI indeniza e o INCRA reassenta 37 famílias de não-índios incidentes no
território kiriri, nas fazendas Taboa e Serrinha, situadas no município de
Quijingue.
|
1989 - 85%
do território kiriri passa a compor o município de Banzaê, desmembrado de
Ribeira do Pombal, em uma manobra política com o intento de
"livrar" esse último município da presença indígena. Mirandela
havia sido estrategicamente escolhida como sede do novo município. Todavia,
mediante injunções na Assembléia Legislativa, em Salvador, os Kiriri
conseguem obstar que a nova sede se situe nos limites da Terra Indígena.
|
1989 - Cerca
de 50 famílias kiriri acampam nas cercanias de Mirandela, após terem suas
moradias parcialmente destruídas por uma enchente. Mantêm-se permanentemente
no local que se constituía, até 1995, em um núcleo de resistência e pressão
frente aos não-índios então ocupantes de Mirandela.
|
1990 - A
Terra Indígena Kiriri tem a sua demarcação administrativa homologada através
do Decreto nº 98.828, de 15 de janeiro, sendo posteriormente realizada a
regularização imobiliária - Reg. CI mat. 2969, livro 2m, f. 83, em 23 de
março daquele mesmo ano.
|
1991 - A
FUNAI indeniza algumas casas habitadas por não-índios em Mirandela e famílias
kiriri as ocupam.
|
1995 - Os
Kiriri ocupam Mirandela, retirando todos os não-índios ali incidentes.
|
1996 - Os
Kiriri ocupam o povoado Gado Velhaco, situado a 2,5 Km de Mirandela.
|
1997 -Os
não-indios desocupam o povoado Baixa da Cangalha.
|
1998 - Os
Kiriri ocupam os povoados de Marcação, Araçá, Segredo e Pau Ferro, retirando
as últimas famílias de não-índios residentes na Terra Indígena.
|
- Gerar link
- Outros aplicativos