Os bestializados - Colunista Ademilson Almeida

“A ordem aliava-se à desordem, com a exclusão da massa dos cidadãos que ficava sem espaço político. O marginal virava cidadão e o cidadão era marginalizado”. (CARVALHO, 1987, p.38)

Minha reflexão sobre o tema acima elencado é a partir da obra de José Murilo de Carvalho, “Os bestializados: Rio de Janeiro e a republica que não foi”.

O livro vai destacar que os moldes da república só beneficiava uma pequena parte da população, a elite. As desigualdades sociais estavam estampadas nos pormenores ritos culturas como, por exemplo, a capoeira. Nesse viés é notório perceber que a insatisfação da população pobre era um sinal que os idealistas da república não tinham conseguido o apoio da massa.

O que se percebe é que o Estado não tinha controle total da política interna, pois inúmeros conflitos estavam acontecendo, entre a massa e o Estado. Tais conflitos geraram uma abertura significativa em prol dos interesses dos indivíduos menos favorecidos. A discursão primordial que o autor dá ênfase, se dar a partir da necessidade de inserir os cidadãos pobres no cenário da política, nesse sentido a um grande contraste entre república e cidadania. Em que no governo republicano, os cidadãos não gozavam de direitos políticos, eles eram limitados podendo gozar dos direitos civis e sociais. Portanto, para contrapor essas ideias republicanas Teixeira Mendes discute juntamente com operários uma forma de adesão dos mesmos dentro da política nacional. No entanto, essa adesão só teria respaldo a partir da organização de um partido político e, que fosse um partido com o viés socialista. Carvalho faz uma crítica pertinente ao sistema governamental republicano, em que o mesmo tratava de incentivar a vinda de imigrantes para o Brasil.

Segundo a visão dos nobres do país não poderia ter uma nação civilizada com negros, índios e a massa pobre do Rio de Janeira. Pois estes acima citados só serviriam como marionete ou como mecanismo de manobra nas mãos dos dominantes. Neste período ocorreram inúmeras revoltas e movimentos que respaldaria da indignação popular, tais como: a revolta do Vintém, a revolta da Armada entre outras. O respaldo dessas revoltas era resultado da insatisfação do povo com o sistema republicano. 

Carvalho trás informações peculiares acerca das revoltas que, ocorreram no tumultuoso movimento republicano, em que a revolta da vacina delineou em outras de cunho mais amplo e, de uma complexidade sócio-política elástica. Neste momento as tumultuosas movimentações sociais, ganha uma amplitude significativa, pois a população se rebelou contra o governo, eles buscam nessas inquietudes igualdade de direitos civis para todos. O autor inicia a abordagem sobre o etnocentrismo existente por parte da elite, em que a mesma via a massa como mero instrumento de manipulação. Pois segundo a concepção elitizada, o povo era insignificante e não eram capazes de “pensar e sentir”.

Essas incapacidades limitavam os indivíduos de forma esporádica, para a elite republicana para ser cidadão, teria de passar pelo trivo do racionalizar em prol do desenvolvimento republicano, através do modelo econômico vigente. Mais uma vez vemos a elite manipular a massa, mediante artificies políticos e ideológicos. Portanto, o povo em determinado momento começam reivindicar uma maior participação na política nacional e em outros segmentos socioculturais como: as festas e a religião. Tangente a essas particularidades é notório a análise de que a população estava rompendo com um sistema brutal politicamente falando.

O livro os bestializados de Carvalho, trás informações importantíssimas sobre a dinâmica e a complexidade que os moldes da República aguçaram sobre a vida dos brasileiros no linear dos anos de 1889-1930. Em que esta nova forma de governo ocasionou uma ruptura sócio econômica, delineando assim inúmeros conflitos dentro e fora do cenário político do país. Tais conflitos se deram por causa da forma desigual que o republicanismo e sua ideologia era imposta sobre a vida dos indivíduos e, como a mesma era executada. Nesse viés a massa não gozava de privilégios políticos, sem mencionar a escassez de direitos violada pelo sistema republicano.

Outro fator importante é em relação às festas que ocorriam naquele contexto da república, as mesmas tinha o fascínio de agregar tanto o povão quanto os governantes republicanos. Este contato se dava a partir dos moldes festivos e, não dentro do cenário político, pois não era significativo esse contato dentro do cenário político. Os festejos serviam também como mecanismos de protestos contra o governo autoritário da época, apesar de que, o povo foi surpreendido pelo novo modelo de governo (republicano), em que este veiculava limites processuais na categoria de cidadania. Mediante a esses aspectos a população não se manteve calada. E na primeira oportunidade que tiveram se organizaram e partiram para o confronto direto com o governo, um exemplo desses conflitos se deu após o governo decretar uma lei que obrigava todas as crianças a serem vacinadas, se por ventura os pais não obedecessem tal decreto pagariam uma multa em sinal da desobediência. Foi a partir desse lócus que estourou a chamada revolta da vacina entre outras.

Esses acontecimentos ocorreram para nos deixar um legado, de que as manobras governamentais têm de ser em prol do desenvolvimento do todo, ou seja, as decisões ou as mudanças no sistema governamental têm que alcançar a amplitude da massa e suas necessidades tanto econômica-social como na fisio-política.


(Ademilson Almeida de Carvalho) Referência: CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: Rio de Janeiro e a republica que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

Comentários

  1. parabéns pelos comentários sobre o livro e pelas colocações pertinentes, de fato boa parte das ações ditas assertivas de muitos políticos ainda refletem situação de exclusão das classes humildes em ignonar-se a lógica da coletividade... muitos desavisados preferem o silêncio abissal, mantem-se desinformados, ouvem apenas uma versal oficial da mídia viciada, dos aparelhos ideológicos disfarçados e mantém-se assim, ingênuos, desvinculados da realidade fática, acreditam nos discursos eloquentes vazios que nunca são exequíveis [ que se desfazem como cortinas de fumaça], proferidos por aqueles que apostam na estupidez coletiva, revestem-se de pseudos boas intenções, embora disso o inferno esteja cheio, como diz famoso adágio popular. No mais, viver, esperar, fazer acontecer, instruir-se, CONHECER A VERDADE, a Bíblia diz que "ela nos librtará", daí moldar-se continuamente, acreditar no bem, esforçar-se e fazer a diferença, numa realidade local cruel, de antigas amarras ainda presentes, de líderes sem rumo, sem cara, sem propósitos, que conduzem nada a nada, que colhem resultados pífios e os apresentam como grandes feitos, para aqueles que se conformam com as sobras, com as aparas do grande banquete da máquina pública ...

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  2. parabéns pelos comentários sobre o livro e pelas colocações pertinentes, de fato boa parte das ações ditas assertivas de muitos políticos ainda refletem situação de exclusão das classes humildes em ignonar-se a lógica da coletividade... muitos desavisados preferem o silêncio abissal, mantem-se desinformados, ouvem apenas uma versal oficial da mídia viciada, dos aparelhos ideológicos disfarçados e mantém-se assim, ingênuos, desvinculados da realidade fática, acreditam nos discursos eloquentes vazios que nunca são exequíveis [ que se desfazem como cortinas de fumaça], proferidos por aqueles que apostam na estupidez coletiva, revestem-se de pseudos boas intenções, embora disso o inferno esteja cheio, como diz famoso adágio popular. No mais, viver, esperar, fazer acontecer, instruir-se, CONHECER A VERDADE, a Bíblia diz que "ela nos librtará", daí moldar-se continuamente, acreditar no bem, esforçar-se e fazer a diferença, numa realidade local cruel, de antigas amarras ainda presentes, de líderes sem rumo, sem cara, sem propósitos, que conduzem nada a nada, que colhem resultados pífios e os apresentam como grandes feitos, para aqueles que se conformam com as sobras, com as aparas do grande banquete da máquina pública ...

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