Liturgia: «Lava-pés» com mudanças promovidas pelo Papa


Francisco abre portas à participação das mulheres em gesto simbólico da Quinta-feira Santa

Lisboa, 24 mar 2016 (Ecclesia)

 A Igreja Católica começa hoje a celebrar o Tríduo Pascal com a Missa da Ceia do Senhor, na qual se repete o gesto do ‘lava-pés’, este ano com mudanças introduzidas pelo Papa que permitem a participação de mulheres.
Francisco decidiu modificar a rubrica do Missal Romano relativa ao lava-pés de Quinta-feira Santa, estabelecendo que a participação no rito não seja limitada só aos homens e rapazes.
Este é um gesto que marca a celebração vespertina da Missa na Ceia do Senhor, que o atual Papa tem celebrado fora do Vaticano: em 2013, numa prisão juvenil, na qual lavou os pés a 12 jovens de várias nacionalidades e religiões, incluindo duas raparigas; em 2014 num centro de reabilitação para pessoas com deficiência e idosos; em 2015 na igreja do complexo prisional de Redibia, em Roma, onde lavou os pés a 6 homens e 6 mulheres e também a uma criança que estava no colo da sua mãe detida.
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Santa Sé) publicou hoje o decreto com que anuncia a mudança decidida pelo Papa, que altera a prática estabelecida em 1955, aquando da reforma da Semana Santa.
Nessa altura, o decreto ‘Maxima Redemptionis nostrae mysteria’ conferiu a faculdade de realizar o lava-pés “a doze homens” durante a Missa na Ceia do Senhor, “a manifestar representativamente a humildade e o amor de Cristo pelos seus discípulos”.
O Missa Romano passa a deixar de fazer referência aos “homens escolhidos”, passando a falar nos “escolhidos entre o povo de Deus”, de maneira que os responsáveis pelas comunidades católicas “possam escolher um grupo de fiéis que representem a variedade e a unidade de cada porção do povo de Deus”.
“Tal grupo pode ser composto por homens e mulheres e, convenientemente, jovens e idosos, sãos e doentes, clérigos, consagrados, leigos”, precisa a alteração promovida pelo Papa Francisco.
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos introduz esta inovação nos livros litúrgicos do Rito Romano, “recordando aos pastores a sua tarefa de instruir devidamente tanto os fiéis escolhidos como os demais, a fim de que participem no rito consciente, ativa e frutuosamente”.
A consagrada da Fraternidade Missionária ‘Verbum Dei’, Paulo Jordão, diz à Agência ECCLESIA que faz sentido repetir estes gestos, elogiando a decisão do Papa, na qual vê um convite a “deixar-se amar por Deus” e a assumir a responsabilidade de “mostrar esse amor aos outros”.
“Para lavarmos os pés uns aos outros, precisamos de ser lavados. Esse é o grande significado que eu vejo neste gesto de Jesus”, acrescenta.
O tema vai estar em destaque esta noite na emissão do Programa ECCLESIA na Antena 1, a partir das 22h45.
Com a Missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
A Igreja Católica comemora a instituição dos sacramentos da Eucaristia e da Ordem, evocando a última ceia de Jesus com os apóstolos, e repete, simbolicamente, o gesto do lava-pés que, segundo o relato do Evangelho de São João, foi feito pelo próprio Cristo.
No final da celebração, o Santíssimo Sacramento (hóstia consagrada que os católicos acreditam ser o próprio Jesus Cristo) é trasladado para um outro local, desnudando-se então o altar, que permanece assim até à Vigília Pascal.
As orientações do Missal Romano pedem que sejam retiradas as toalhas do altar e, se possível, as cruzes da igreja, tapando aquelas que não possam ser removidas.

SN/OC

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