Justiça veta ‘guerra de espadas’ em Senhor do Bonfim e suspende lei que torna prática patrimônio cultural

Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) vetou a realização da tradicional “guerra de espadas” que ocorre durante o período junino na cidade de Senhor do Bonfim, no Centro Norte da Bahia, e ainda suspendeu a lei municipal que tornava a prática um patrimônio cultural e imaterial da cidade.
A decisão, que considerou um pedido feito pelo Ministério Público do estado (MP-BA) foi publicada na edição desta quinta-feira (22) do Diário Oficial da Justiça. Quem descumprir a medida pode ser preso e pagar multa de até R$ 10 mil. A associação dos espadeiros do município informou que vai recorrer da decisão.
A guerra de espadas havia sido declarada como patrimônio cultural e imaterial da cidade no início de junho, quando a prefeitura sancionou sancionou o projeto de lei sobre a prática. A proposta já havia sido aprovada por unanimidade, no final de maio, pela Câmara de Vereadores da cidade.
A medida, no entanto, dividiu opiniões na cidade, porque alguns moradores defendem o fim da prática por conta dos perigos de queimaduras nos participantes. No São João de 2016, ao menos 19 pessoas tiveram ferimentos no município.
Espadas apreenidas pela polícia em Senhor do Bonfim, no norte da Bahia (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Na quarta-feira (21), um homem foi preso em flagrante e 105 espadas foram apreendidas em Senhor do Bonfim. De acordo com a Polícia Civil, a prisão e apreensão ocorreram durante operação conjunta com o Ministério Público da Bahia (MP-BA), que já havia recomendado à prefeitura do município que não promova, prepare, apoie ou coopere com a execução da guerra de espadas na cidade.
Tradição
Apesar de perigosa, a tradição é mantida pelas famílias da cidade, que aguardam a chegada do São João para dar início a manifestação cultural.

O bairro da Gamboa, no município, é ponto de encontro dos “Espadeiros da Gamboa”, grupo com mais de 70 participantes que se reúne para guerrear há mais de 50 anos.
Durante a guerra, os espadeiros usam roupas e capacetes para se proteger das espadas, mas não dispensam a oração para pedir proteção antes de dar início a tradição.

Em média, cada espadeiro leva 100 espadas para guerra, e algumas famílias chegam a gastar mais de mil reais com o arsenal.