Sesab confirma 47 mortes por dengue em 2024 na Bahia

Saiba qual é a missão do 'Homem Aranha' que foi visto circulando em Feira de Santana

Saiba qual é a missão do 'Homem Aranha' que foi visto circulando em Feira de Santana. Se você é de Feira de Santana ou interage através das redes sociais, com certeza ouviu falar ou viu o vídeo em que o Homem Aranha está sobre um carro que circula em uma rua da cidade. Houve quem pensasse que o vídeo era uma brincadeira de gente corajosa, de alguém que queria chamar atenção fantasiado para o carnaval, ou simplesmente alguém que não tinha o que fazer e decidiu se aventurar como o personagem das histórias infantis. Mas, todas as opções estão completamente equivocadas.

O Homem Aranha, flagrado sobre o carro que trafegava pela cidade, estava em uma missão muito importante. Uma missão para o desenvolvimento de duas crianças que passaram por graves problemas de saúde e hoje através do super-herói, conseguem superar seus medos, vencer as dificuldades e se aventurar pela infância com toda a força da imaginação. O Homem Aranha de Feira de Santana faz parte do projeto idealizado pelo coach Henrique de Morais Consendey e a fisioterapeuta Larissa de Andrade Sampaio. A iniciativa chama-se Dream College e funciona com o objetivo de promover o desenvolvimento humano para todas as pessoas a partir de suas particularidades. Sejam elas limitações motoras, físicas, questões emocionais, de convívio ou relacionamento interpessoais.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
Com um vasto currículo em todas as áreas de formação, Henrique decidiu trazer a experiência pioneira para Feira de Santana a partir do seu próprio exemplo de superação e cura. Natural do Rio de Janeiro, ele conta que há 15 anos foi diagnosticado com uma série de patologias, sobretudo psíquicas e através dos seus estudos e do próprio autoconhecimento se curou e decidiu desenvolver uma metodologia para ajudar outras pessoas.
Com formação em coaching, entre as inúmeras atividades que já desempenhou estão: dublê e coordenador de dublê de ação da Rede Globo por dez anos, instrutor de escalada, cadete da força área, instrutor de mergulho, resgate e salvamento, instrutor de yoga, tai chi chuan, esgrima, arco e flecha e também mestre em reiki. Tanto conhecimento nas diversas áreas e ainda através da medicina ayuvédica o fizeram desenvolver uma metodologia de organização humana e amenização do sofrimento.
Foto: Arquivo Pessoal
“A base desse trabalho iniciou há 15 anos por conta da quantidade de patologias diagnosticadas em mim, a quantidade de dificuldades que eu tive na escola, universidade. Eu não encontrava em local algum qualquer coisa que me aproximasse da cura disso e então eu pensei que se eu consegui desenvolver uma metodologia que vai organizar esse ser (eu) que estava tão sofrido em um sofrimento tão profundo com depressão, com déficit de aprendizagem, uma série de coisas até psiquiátricas, e se eu consegui desenvolver uma metodologia que me curou, decidi apresentá-la para outras pessoas. Nesse processo eu viajei à India, fui fazer documentários com grandes líderes religiosos e eu fiz ao longo da vida muitos treinamentos de forças especiais. Percebi que desses treinamentos desenvolvia muito alguma coisa e eu fui pegando um pouquinho daqui, dali e descobrindo onde está o medo da pessoa. O medo é a chave do crescimento. Primeiro porque o medo está em um lugar que ninguém quer ir e então se ninguém quer ir lá, significa que é uma área inexplorada e então a gente vai lá. Começa a trabalhar com uma metodologia em que o ser humano se desenvolve muito”, disse.
Foto: Arquivo Pessoal
Para Henrique, o ser humano atualmente está muito pouco desenvolvido porque não se desafia mais. Os desafios, na opinião dele são na sua maioria virtuais e as pessoas acabam ficando na sua zona de conforto. Essa situação de estagnação na zona de conforto consequentemente vai trazer o adoecimento.
Foto: Arquivo Pessoal
A fisioterapeuta Larissa relata que o trabalho com as crianças e as famílias resgata a autoestima e não se relaciona a condição física ou emocional de cada um.
Foto: Arquivo Pessoal
“Aqui a gente evita falar de diagnóstico. Queremos que as pessoas tenham oportunidades de serem vistas sem a condição que ela foi relacionada. Nosso objetivo é conhecer e desvendar cada ser humano. Acreditamos que cada pessoa é única e nos dedicamos a conhecê-la”, acrescentou em entrevista ao Acorda Cidade.
Homem Aranha
O Homem Aranha que foi visto na última semana circulando pelas ruas de Feira de Santana é parte da metodologia de trabalho do projeto Dream College. Além de Henrique, Larrissa e outros profissionais, o personagem entra como um verdadeiro motivador para as crianças.
O vídeo que viralizou nas redes sociais do super-herói no teto do carro foi mais uma missão do personagem junto com as crianças e que fez parte do processo terapêutico e de desenvolvimento. No carro estavam João Pedro Leão, de 5 anos, que fez dois tratamentos de câncer e Gabriel Goés, de 16, que nasceu com paralisia cerebral, hidrocefalia e já fez 54 cirurgias na cabeça. Eles estavam com o Homem Aranha e a motorista do carro, Joana Ferreira, mãe de João Pedro em mais uma ação de para o despertar emocional, de habilidades e movimentos.
Foto: Arquivo Pessoal
A missão começou com o objetivo de socializar João e Gabriel no shopping e incentivá-los a correr junto com o Homem Aranha para que pudessem desvendar uma “bomba de chocolate”. A ludicidade do personagem quebra o medo e a insegurança das crianças e os leva para o caminho da superação e do empoderamento.
Joana Ferreira, mãe de João Pedro contou que o garotinho sempre foi muito fã do personagem do Homem Aranha e quando encontrou o super-herói para ajudá-lo durante o tratamento foi uma verdadeira surpresa, além de grande incentivo. Devido ao câncer, João teve muita queda de cabelo, dificuldades em movimentos motores e passou a ter medo de sair de casa. O contato com o Homem Aranha foi fundamental para encorajá-lo a desbravar o mundo que existe além da doença.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
“A princípio procuramos Henrique e Larrisa para a realização da fisioterapia. Quando chegamos aqui começamos a entender sobre o projeto de desenvolvimento humano que trabalha não só com as crianças, mas com os pais, as mães e toda a família. Aqui as crianças vivem um mundo que não tem nada a ver com hospital, nem com clínica. Quando estava no hospital e precisava receber sangue, eu falava para João que aquele sangue era do Homem Aranha e assim ele se sentia melhor. Quando ele chegou aqui que viu o próprio Homem Aranha, foi muita emoção, a realização de um sonho”, relatou ao Acorda Cidade.
Foto: Arquivo Pessoal
Vestido com a roupa do Homem Aranha, João Pedro quase não desgruda do personagem e sua admiração por todo o significado que o super-herói traz em sua vida, faz seus olhinhos brilharem. Ele, que tinha medo de sair de casa, agora é quase um ajudante do super-herói e participa de todas as atividades do espaço Dream College no seu tratamento. Faz natação, escalada, corre, brinca e vive uma infância feliz.
O mesmo acontece com Gabriel Góes, que segundo a sua mãe Flávia Goés, por várias vezes chegou a ser desenganado pela medicina tradicional. Ele foi uma das primeiras pessoas a chegar ao espaço e é sem dúvida um dos alunos mais empolgados e participativos. Junto com irmão Iure, de 3 anos, que também tem paralisia cerebral, ele diz que aprendeu com o Homem Aranha a nunca mais pensar no seu “arqui-inimigo”, que são seus medos e inseguranças.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
“O Homem Aranha é a pessoa mais importante da minha vida. Eu não quero que ele fique fraco porque ele me ajuda a não pensar no meu arqui-inimigo”, disse.
Sobre a evolução de Gabriel, Flávia comenta que ele teve grandes avanços tanto na parte física como emocional. Melhorou o equilíbrio, a coordenação motora e o fez viver o sonho do Homem Aranha e das Histórias Infantis.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
“Aqui nossos filhos são tratados de igual para igual e isso é apaixonante. Eu fico emocionada em ver meus filhos vivenciando os sonhos deles. Gabriel, por exemplo, vive a fantasia da infância e aqui ele recebe todo o amor que falta na família e ao redor. Ele foi uma criança desacreditada por todos e agora está aqui se desenvolvendo e contra todos aqueles que falaram que ele não iria conseguir. Está vivendo seu momento, seu sonho. Muitas vezes ele não queria ir ao shopping e um dia ele me disse que preferia ir com o Homem Aranha porque assim ninguém fica olhando para a forma que ele anda. Ele não saía de casa e agora quando eu falo que eu vou sair é o primeiro a querer ir junto. Através do personagem ele passou a ter confiança nele mesmo”, declarou Flávia com os olhos marejados de emoção.
A participação do Homem Aranha trabalha todas as capacidades das crianças e para Juliana Leal, mãe de Lucas, que é portador de paralisia cerebral, o incentivo do super-herói reflete principalmente no empoderamento das crianças. Seu filho, de apenas 4 anos, e que anda com a ajuda de um andador,antes sentia vergonha de usar o equipamento em locais públicos. Hoje, com todo o trabalho do coach Henrique, da fisioterapeuta Larissa e a motivação do super-herói, ele se autoafirma nos espaços que frequenta e nas suas relações interpessoais, e fala que não se importa mais com a opinião das pessoas.
Foto: Arquivo Pessoal
“Ele tem uma autoestima que não tinha antes. Chegou aqui em busca da fisioterapia, mas o tratamento é diferenciado. Ele faz várias coisas que não fazia antes e todo dia é uma coisa diferente. Se desenvolve brincando e despertando sua autoconfiança. Também é um super-herói”, ressalta.
A satisfação dos pais em ver a evolução dos filhos é descrita cheia de emoções, relatos de experiências anteriores e também no sentido de que eles conseguem superar muitas barreiras pessoais. Aristeu Vieira, que é pai de Gabriel Manzani, explica que o ganho foi tanto para o jovem como, principalmente, para ele que passou a enxergar através dos aprendizados e atividades, que boa parte das atitudes e da hiperatividade que o filho apresentava era reflexo das suas próprias deficiências e a forma de condução das suas relações, assim como a falta de aprendizagem enquanto ser humano.
“Eu digo que não fui eu que trouxe meu filho até esta casa. Mas, ele que me trouxe até aqui. Venci vários traumas e fiz coisas que, inclusive, eram meus sonhos de infância e eu não sei porque eu não tinha realizado. Consegui fazer arco e flecha e eu tinha um trauma muito grande de água e de piscina funda. Tinha pânico, medo e consegui entrar. Eu precisava vivenciar isso e foi meu filho que me proporcionou”, enfatizou.
Meditação
Além das diversas atividades esportivas e lúdicas, as crianças e famílias atendidas pelo projeto aprendem também a meditar. Embora a atuação de Henrique e Larissa no espaço de desenvolvimento seja diariamente, o Homem Aranha participa das ações em média uma vez por semana e em ocasiões especiais. Para que ele apareça as crianças fazem um momento de meditação e mentalizam muitas coisas boas.
A identidade do super-herói, não pode ser revelada e ele afirma que sua principal missão é ensinar as crianças e as famílias de Feira de Santana a se defenderem sozinhos, defenderem seus amigos e terem bons pensamentos.
Foto: Arquivo Pessoal
“Busco ensiná-los a ter bons propósitos e que a mente é seu universo particular. Se a mente está propondo maus pensamentos eles precisam comer melhor, dormir melhor e tomar mais água. A gente precisa se dedicar a si próprio para ter um bom caminho e uma mente harmonizada”, frisou.
Foto: Arquivo Pessoal
Além de ser visto no shopping, em cima do carro e vários locais da cidade, o Homem Aranha de Feira de Santana, já participou de várias ações voluntárias no Hospital Estadual da Criança (HEC) e em outras instituições sociais. Ele não para e a cada dia surgem novas missões. Todas muito especiais e com muito amor. Nos últimos dias ele também passou a ganhar o reforço do Batman e não é de se espantar se, de repente toda a Liga da Justiça comece aparecer na cidade para ajudar a muitas pessoas a vencerem suas dificuldades.