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MULHERES INDÍGENAS NO SÉCULO XXI

MULHERES INDÍGENAS NO SÉCULO XXI


Nós, homens, não podemos imaginar o que se passa a cantar na voz dessas mulheres. Mulheres indígenas que, frágeis, periféricas, são barreiras protetoras da cultura, de seus filhos e maridos. Mas, é só isso o mundo de uma mulher indígena? Não e não deve caber numa noite só de angústia, a moldura da vida de uma mulher indígena, no agora. Sair de casa e cair em um mundo para o qual não foi preparada e, por força, ser engolida. Essa casa é a comunidade, a vida na natureza. Mesmo na mais remota floresta, entre as mulheres indígenas “brabas” das tribos “isoladas”, na rede, a mãe pesarosa não consegue mais esquecer que sabe de nós, de como somos e no que vai dar essa modernidade. A preocupação com o futuro de sua geração no fim é igual. Mesmo porque corre nos rios a imundície, o cheiro da tragédia dessa civilização; o dia a dia, o contato com toda a violência. Como pode um coração suportar a dor de perder um mundo encaixotando-se em um bairro de periferia, trabalhando sexualmente calada nas “casas de família”? Ou estar na comunidade e já não ter a mesma natureza? Para todos os lados há um efeito compressor, uma força maior, muito poderosa. A opressão imprime sua força e é bem diferente do abraço de uma sucuri. A pobreza verdadeira vista de dentro. A falta de higiene. A indignidade de ter que passar por caboquinha quando na verdade é uma linda mulher, nativa de uma terra que hoje chama-se, quase sem orgulho, Roraima. Uma fotografia de arte pura, real, natureza viva, vulnerável e solitária. Mas visto que esse tempo acelerou, a mulher indígena sobreviveu, mudou e, por outro lado, engrandeceu-se. Mas não se vai muito longe o estado de graça desse ser fenomenal. Logo se houve o grito de mais uma agressão. Do nosso lado, em um bar pé sujo, no Senado Federal, em qualquer lugar, a toda hora, crimes. Imagine que essa vida é real e elas são minhas parentas queridas, minhas irmãs.