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Cruzar o trecho do Dique do Tororó próximo aos Barris se tornou um martírio para a população soteropolitana. O mau cheiro que exala da concentração de microalgas e sedimentos orgânicos, conforme nota dos órgãos envolvidos, provoca náuseas nos desavisados e deixa um dos principais cartões postais de Salvador fedido. Um parque urbano, o Dique do Tororó está sob responsabilidade do governo do estado, porém, por estar incrustrado no meio da capital baiana, é mais associado à prefeitura. E, em um momento em que tudo e qualquer coisa pode ser politizável, provocou reações do prefeito ACM Neto (DEM). Nas redes sociais, o gestor de Salvador ressaltou que o Dique não está no seu guarda-chuva de obrigações e jogou a bronca para o estado. Até o momento – inclusive com uma campanha forte dos meios de comunicação mais próximos ao prefeito -, não há sinais de que haverá uma solução de curto prazo para o problema. À TV Bahia, a Bahiapesca informou que está previsto o desembarque de carpas em 2018 para evitar a reprodução desenfreada das microalgas. Até lá, o desgaste ficará para a prefeitura, cujo imaginário popular coloca como responsável pelo dique e o governo passa despercebido. Uma tática de jogar a sujeira para baixo do tapete muito empregada no ambiente político. Mas os baianos estão acostumados, não é? Afinal, faz parte do cotidiano dos brasileiros. Vejam dois exemplos recentes de Brasília. Na terça-feira (17), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou a ter direito ao exercício parlamentar depois do Supremo Tribunal Federal considerá-lo perigoso para as investigações em curso contra o tucano. O Senado se curvou aos interesses de seus membros, que preferem esconder o sol com uma peneira a deixar um senador ser investigado por irregularidades cometidas. No dia seguinte, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou um parecer favorável ao arquivamento da segunda denúncia contra o presidente da República Michel Temer. Acusado de ser “chefe do quadrilhão do PMDB”, Temer tende a ser salvo também no plenário, depois da velha prática do toma lá, dá cá. Em Brasília, a sujeira é varrida para baixo do tapete. Em Salvador, deixa o Dique do Tororó impraticável. Em ambos, há algo em comum: muita coisa fede. Este texto integra o comentário desta quinta-feira (19) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM e Clube FM.
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