ZEZITO DA CHAN É O QUARTO HOMENAGEADO COMO "PERSONALIDADE NOTA 10" DO TS.

O Site e o programa de Rádio que vai ao ar todos os sábados das 8 as 9hs, denominado Jornal Tribuna Sisaleira, sob o comando do Locutor, Operador e Ancora do programa, Luiz Santana, irá homenagear as "PERSONALIDADES NOTA 10" que inicialmente será realizado uma matéria, seguida de entrevista ao vivo no estúdio ou no espaço de ação do homenageado, "In Memoria" no caso dele já falecido ou em loco no caso do mesmo estar vivo e no final do ano haverá uma surpresa para estes homenageados. Você poderá nos indicar candidatos para este quadro a exemplo do nosso primeiro homenageado foi o Senhor Gonzaga, o segundo Rubens Rocha, o Terceiro o Padre Osvaldo e agora o poeta e vaqueiro aposentado Zezito da Chan.

O poeta e vaqueiro aposentado José Batista de Carvalho, atualmente com 87 anos, conhecido como Zezito da Chan, nasceu em 23/06/1931, na Fazenda Andaraí em Araci-BA. Filho de Maximiano Lisboa Ferreira e Maria Ferreira Oliveira. Zezito é tataraneto do Capitão José Ferreira de Carvalho, fundador deo raso, hoje Araci. Desde muito pequeno trabalhava de Vaqueiro mais o pai, para ajudar nas despesas de casa, porém perdeu o pai aos 17 anos, sendo Zezito o mais velho de 4 irmãos, nesse momento herdou o carro de boi e com ele foi trabalhar carregando pedras e lenha, para sustentar sua mãe e seus irmãos. Criava gado, ovelhas e cabras, trabalhava de vaqueiro no Tabuleiro, região de Araci. Quando sua mãe faleceu dividiu a herança com os irmãos, ficando com ele a Faz. Lameiro da Ema.


Caricatura presente no Centro Cultural de Araci

Se casou aos 31 anos no ano de 1962, com Terezinha de Sinhor da Chan, com ela teve 9 filhos, o mais Velho foi Zé Lauro, (Faleceu ao 7 anos por uma forte Febre) - José do Carmo (Carminho) - Elizeu e Elias ( Gemeos - Elias Faleceu ainda Bebê.) - Benicio (Benição das Areias) - Marlene - Maria da Paz - Marleide ( Faleceu ainda Bebê) - e Natalicia (Faleceu Ainda Bebê). Vendeu a fazenda Lameiro da Ema e foi morar na Faz. Mirassol, conhecida hoje como Areias, distante 4km do centro da cidade de Araci, e comprou a faz. São Luiz na Terra Vermelha.
Enfrentou muitas secas, grandes dificuldades, mais trabalhou muito e criou todos os filhos com muita dignidade e honestidade, durante toda a sua vida foi Aboiador, Agricultor, vaqueiro, poeta, sempre gostou de descrever em versos toda adua tragetória no meio rural. Criava gado e fazia Plantações para o sustento de sua familia, também vendia leite, e trabalhava na roça dos outros. Atualmente está aposentado e mora na sede do município, seus poemas e versos sobre sua vida e sobre o sertão foi publicado pelo Centro Cultural de Araci no ano de 2005, no livro intitulado de Saída da Minha Roça, por um bom tempo também recitava seus poemas e cantava aboios na Rádio Cultura FM de Araci.




Foto tirada por Carlos Mota em Araci no ano de 1950









Entrevista Zezito da Chan:
 



Livro: Saída da minha roça 2005 (Zezito da Chan)

A CHEGADA DO CAPITÃO
O capitão José Ferreira
Casou com uma mulher de Pedrão
Lá fez casa para morar
Fez a sua habitação
Tinha tropa de burro
Viajava para o sertão

Depois resolveu
Ir morar em Serrinha
Continuou viajando
Fazendo a mesma linha

Viajava com tropa
Carregada de pano
Passava no lameiro do Raso
Ai tomou novo plano

Foi comprar o terreno
Do Barão de Jeremoabo
Que era um grande sertão
Lá só tinha bicho bravo
Que ninguém pegava com a mão

Vinte léguas de terra
Foi o que ele comprou
Por um conto de réis
Dinheiro que tinha valor

Ele veio descobrir
Fez a fazenda Coqueiro
Trouxe um lote de gado
Botou logo um vaqueiro

Os pontos da terra
Da barra do Rufino
Ao curral do cerqueira
Da Serra da Santa Rita
Ao Rio da Ribeira

Depois ele resolveu vim morar
Trouxe uma turma de escravos
Para com ele trabalhar

Fez casa para morar
Cavou o Tanque da nação
Fez grandes roçados
Para fazer plantação


Casou uma filha
Que era a primeira
Fez para ela morar
A fazenda Poço da Madeira

Lá fez local de Missa
Celebrava todo ano
Com o Padre Rocha Viana
Da Freguesia de Tucano

Por ele ser religioso
Construiu uma Igreja
Carregando pedra na cabeça
Foi uma grande peleja

SAÍDA DA MINHA ROÇA
Me saiu água dos olhos
Quando eu sai da minha roça
Olhando as  minhas mãos grossas
O tanto que trabalhei
Com  a bagagem na carroça
Pra vim morar na cidade
Não foi de minha vontade
Coisa que eu nunca pensei
A noite eu durmo sonhando
Com o meu gado berrando
Aonde anda, eu não sei
Olho para a janela
Pra ver a barra do dia
E quando vejo
É o clarão da energia
Que ainda não me acostumei
Eu vou lá na minha roça
Me contraria a natureza
Olhando aquelas belezas
No lugar onde eu me criei
A casa velha abandonada
Um banco velho de braúna
A natureza repugna
O tanto que me sentei
Eu vejo uma sela velha
Em um gancho pendurado
No outro canto um arado
Das terras que já arei
Pra serra do Quererá
Fico somente olhando
E o cata-vento rodando
No poço que eu perfurei
Eu hoje moro na rua
Minha vida continua
Até quando eu não sei
Morar na roça não mais quero
Da rua pro Cemitério
Um dia eu viajarei

DESTINO
Findou o mês de Setembro
Esta data me lembro
Entrada da Primavera
Toda abelha Acelera
Tirando o mel da flor
Porque tem grande sabor
Toda a caatiga pela
Que a natureza é quem zela
Por ordem do criador

Nasce um menino
Enquanto é criança
Vai vivendo na esperança
De um dia ser adulto
Para não criar bruto
Vai para o colégio
Com todo o privilegio
Continua os estudos
Mesmo sendo rude
Tem que aprender
Quando ficar velho e idoso
Tem que ter um repouso
Já fez o que podia fazer

LEMBRANÇAS
Vou falar no tempo passado
Que ouve a escravidão
Os fazendeiros compravam
A patente de Capitão
Os Escravos eram quem trabalhavam
Só comiam de ração
Eles não tinham direito a terra
Obedeciam aos fazendeiros
Não compravam nada
Porque não tinham dinheiro
Era uma amargura

A vida de cativeiro
Brasil terra do ouro
Mas não chegou para a pobreza
Se vier na casa do pobre
Falta comida na mesa
O Brasil é muito rico
Se ver tanta grandeza

Joaquim José da Silva
Conhecido por Tiradentes
Era Homem de justiça
Pobre, mas inteligente
Foi enforcado por que queria
Um Brasil independente

O gênio brasileiro
Machado de Assis
Foi o maior escritor
Que teve neste país
De uma família pobre
Assim a historia diz

O Marechal Deodoro
Este herói Brasileiro
Que gritou “republica”
Lá no Rio de Janeiro
Acabou com o Reinado
Com seu grito altaneiro

POESIA DO TABULEIRO
Fui ao Cajueiro Redondo
Uma Missa dos vaqueiros
Quando cheguei lá
Só tinha três companheiros
Dos vaqueiros velhos
Que achei no Tabuleiro

A casa limpa asseada
Como quem tinha dono
Junto aos meus companheiros
Passemos a noite de sono
Parece que mora nela
Os morcegos e moribundos

Quando entrei no salão
Meu coração abalou
Fui avistando o retrato
Do meu tio Senhor
Lembrei das juntas de gado
De tudo que se passou

Fui olhando o recanto
Aonde a rede se armava
Nem as cordas sediam
No armador elas não estavam
Nem o espirito dele
Não se sabia aonde andava

Procurei um fogo aceso
No meio do salão
Para fazer um café
Cozinhar carne do sertão
Para comer com farinha seca
Nas costas de um gibão

Tanta carne eu assei
Nas brasas dos muricis
Junto aos meus companheiros
Muita vez eu comi
Eu olho para todo lado
Não vejo eles aqui

Procurei lá no torno
Se encontrava um borracha
Cheia de água cristalina
Do Caldeirão da baixa

Bebi água na torneira
Era muito a minha sede
Fui procurar corda
Pus no armador da parede
Porque eu estava com sono
Queria armar minha rede

Acordei e da corda fiz peia
Para ir pear o cavalo
No pau d´água cachorro
Que o tabuleiro era ralo
Tava todo desmatado
De agreste não tinha um ralo

Fui procurar a casa velha
Pra ver se ainda existia
Nem um caco de telha
Pelo chão não havia
Nem achei o cajueiro
Aonde os vaqueiros dormiam

Fui procurar o curral
Para ver se tinha gado
Tava o pé de baraúna
Um mandacaru encostado
A cerca tinha caído
O mato tinha fechado

Viajei ao nascente
Encontrei a cerca da Cajuba
Naquele desmatamento
Nenhum pé de Janaúba
De longe eu avistei
A Baixa da Licurituba

Comecei a escutar
No eco do Tabuleiro
Não tocava um chocalho
Não gritava um vaqueiro
Não tinha nenhuma rês deitada
Nas sombras do cajueiro

Quando voltei para casa
Já era de tardinha
Fui procurar o caminho
Para ir ao tanque da varginha
Encontrei uma cerca
De Arame de quatro linhas

Aí voltei para trás
De tudo desenganado
O motorista do carro
Já me chamava avexado
Pra gente ir embora
Que o horário tava esgotado

Quando eu entrei no carro
Que ele fez a partida
Sái dando com a  mão
Fazendo a despedida
Os tiradores de argola
Já começava a corrida

Adeus Cajueiro Redondo
Adeus Tanque da Varginha
Adeus Monte do Pau de Pomba
Adeus Teso da Brauninha
Pau D´água  da macambira
Que as lembranças são minhas

Adeus Bebedor do Quererá
Adeus água cristalina
Adeus Serra, Adeus Colina
Que o tempo foi
Não volta mais

A HISTÓRIA DO POÇO GRANDE
A história bem contada
Por José Tertuliano
Que conheceu tudo
Não pode ter engano

O Poço Grande
Deu muita pescaria
Mas tinha um tempo
Que eles proibia

Jogavam garrancho na água
Para ninguém não pescar
Se jogava as redes
Ela tinha que enganchar

Se não proibisse
Peixe não criava
Chegava o tempo
Que o peixe acabava

Quando o tempo chegava
De fazer a pescaria
Era grande festa
Que o povo se reunia

Tinha o poço da Serra
E o poço salgado
Que ninguém não bebia
Só servia para o gado

Tinha os curtumes de couro
Nas águas desse rio
Muita gente trabalhando
Deste jeito em que viver se viu

A construção do açude
Aquela grande barragem
Dizia que o governo não fazia
Porque não tinha coragem

Com o serviço da barragem
Muita gente se empregou
O Comércio de Araci
Dessa vez aumentou

Trabalhou muita gente
De doutor a engenheiro
Zezinho do armarinho
Era o cabelereiro

Zezinho do armarinho
Era mestre barbeiro
Ele cortava os cabelos
De doutor a engenheiro

A barragem foi feita
A bem servir da pobreza
Que tem dado muito peixe
Nessa obra de grandeza

Autor dos poemas e versos: Zezito da Chan